Ao lado da Vara do Júri funciona o cartório criminal da comarca e o oficial de justiça, ao fazer o pregão, chama nominalmente as testemunhas que serão ouvidas.
Uma a uma, elas vão se levantando. Logo no primeiro depoimento o juiz confere o nome da testemunha e passa a inquiri-la:
- Qual o nome completo do senhor?
- Pedro Evangelista de Oliveira.
- Senhor Pedro, o que viu naquela noite?
- Que noite, doutor?
- A noite em que - segundo o doutor promotor de justiça - o Luís matou o Juvêncio.
- Nada...
O magistrado insiste na pergunta, perguntando a Pedro se ele se lembrava de ter prestado depoimento na polícia e dito que vira o acusado esfaqueando a vítima e fugindo.
Novamente a resposta é negativa. Intrigado, o magistrado pede que a testemunha vá até o birô e confira sua assinatura. A testemunha olha e nega que seja sua.
- Dotôr, não sei ler. Sou "analfabeto".
Enquanto o magistrado folheia os autos, a testemunha complementa:
- Nem sabia que iria dar tanto “pobrema” vir aqui. Tava ali esperando ser chamado no cartório para receber uns “papel”. Chegou um homem de preto, me chamando pelo nome e me mandando sentar numa sala cheia de gente, que nunca vi. Povo estranho. Mas tive que esperar um tempão. O homem de preto disse que eu iria ser o primeiro. Só não sabia que iria ter esse interrogatório todo, só pra tirar uma certidão de antecedentes para emprego.
Só então o magistrado percebe que se trata, na verdade, de um homônimo...
O Pedro Oliveira que deveria depor como testemunha continuava sentado num banco, fora do salão do júri, esperando ser chamado...
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(Adaptado a partir do texto original, publicado no blog do juiz Rosivaldo Toscano/RN).