MPMT
“A 1ª Mostra Fotográfica das Vítimas de Feminicídio em Cuiabá permite que essas mulheres voltem a falar por meio das imagens. É como se as vítimas ganhassem uma sobrevida. O espírito delas, a energia que elas emanavam, tudo isso volta a fluir. E espero que isso comunique com outras pessoas, que ecoe no coração e gere uma reflexão de toda a sociedade”, afirmou a procuradora de Justiça Elisamara Sigles Vodonós Portela, durante a abertura da exposição fotográfica no Pantanal Shopping, em Cuiabá. Realizada pela Prefeitura de Cuiabá, via Secretaria Municipal da Mulher, em parceria com a Virada Feminina Nacional, a exposição tem apoio do Ministério Público do Estado de Mato Grosso.
Além de sensibilizar, a mostra visa alertar à população sobre os impactos do feminicídio na sociedade. A exposição é composta por 12 painéis com fotografias e informações das vítimas de feminicídio, devidamente autorizadas pelas famílias, sendo 11 casos ocorridos em Cuiabá e um registrado no estado de Minas Gerais, que ganhou repercussão internacional, e teve como vítima Eliza Samudio. A procuradora de Justiça Elisamara Sigles Vodonós Portela, que trabalhou por mais de 15 anos no enfrentamento à violência doméstica, conta que atuou em um dos casos registrados na mostra, da vítima Josilaine Maria Gomes dos Reis. Ela foi morta pelo companheiro em outubro de 2021 e deixou três filhos. O feminicida Edésio Alves de Assunção foi condenado a 28 anos de prisão.
“Sei como é difícil atender uma mulher vítima de violência. E sabemos da importância de uma exposição como essa. Porque essas vítimas não morreram. Elas estão vivas no coração de seus filhos, dos seus pais. E continuam gritando por justiça. Por isso nós temos que falar, ainda que seja doloroso”, defendeu Elisamara Portela. Para ela, levar a exposição para espaços públicos como o shopping, de grande rotatividade, onde transitam pessoas de diferentes faixas etárias, garante visibilidade aos crimes, choca, e, ainda que o público não perceba, gera uma conscientização. “No mínimo faz a pessoa pensar, poxa vida, aquela moça lá foi assassinada”, apontou.
A primeira-dama de Cuiabá, Márcia Pinheiro, observou que os rostos retratados podem sensibilizar e promover a reflexão coletiva para o enfrentamento ao feminicídio. “Ações como essa vão permitir que as pessoas que frequentem o shopping possam realmente ver a triste realidade das famílias das vítimas, pois muitas delas deixaram filhos, que não terão mais mães e nem pais, porque normalmente esses agressores são presos, fogem ou cometem suicídio”, pontuou, reforçando que os crimes estão cada vez mais cruéis. “Cuiabá é a terceira capital a receber essa mostra. Contudo, nas outras cidades, ela retratava mulheres vítimas no país. Nós quisemos retratar a triste realidade das vítimas de Cuiabá e optamos por trazer uma representante nacional, a Eliza Samudio”, contou.
A titular da Secretaria da Mulher da capital, Cely Almeida, disse ser uma grande responsabilidade realizar a mostra fotográfica. “Esse projeto itinerante é um chamado urgente para a conscientização e o engajamento de todos no enfrentamento à violência de gênero. Esta exposição não apenas homenageia as mulheres, cujas vidas foram brutalmente interrompidas, mas também nos provoca a refletir sobre o papel que podemos desempenhar na construção de uma sociedade mais justa e segura para todos. Por meio deste memorial visual, trazemos à luz histórias que precisam ser contadas e discutidas”, garantiu.
Crime autônomo - A procuradora de Justiça Elisamara Portela lembrou que entrou em vigor no dia 10 de outubro a Lei 14.994/2024, que torna o feminicídio um crime autônomo e agrava a pena para a maior prevista no Código Penal. “O crime de feminicídio se tornou visível quando foi criada a qualificadora e hoje ganha um destaque ainda maior ao se tornar um delito autônomo, com penas de 20 a 40 anos de prisão. Se for praticado em determinada circunstância, a pena mínima pode chegar a 27 anos de prisão. Reconhecido como crime hediondo e com uma punição mais exacerbada, esperamos que realmente haja uma redução desse tipo de crime”, defendeu.
Relacionamento tóxico - Elisamara Portela aproveitou para alertar às mulheres. “Todo relacionamento tóxico dá um sinal, mas muitas vezes a mulher não quer admitir. Nessa ilusão do príncipe encantado, ela pensa em salvar o casamento e se esquece dela. Precisamos conscientizá-la para que possa sair desse relacionamento e buscar ajuda”, considerou. A procuradora de Justiça apontou que o “Quiz do Respeito”, desenvolvido pelo Ministério Público de Mato Grosso e disponível no Observatório Caliandra (acesse aqui), pode auxiliar as mulheres a identificar se estão em situação de violência doméstica e familiar em seu relacionamento, como também indicar a provável intensidade das violências sofridas.
Secretaria da Mulher - A procuradora de Justiça parabenizou a Secretaria Municipal da Mulher pela iniciativa da exposição e reforçou o apelo do MPMT, em parceria com os órgãos que integram a Rede de Enfrentamento à Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher de Cuiabá, para que os candidatos à Prefeitura de Cuiabá deem continuidade à Secretaria Municipal da Mulher na próxima administração municipal. “Peço que eles tenham a sensibilidade de manter, em pleno funcionamento, essa Secretaria, que é um espaço de articulação, de proximidade entre o município e o cidadão, que muitas vezes exerce o papel de porta-voz entre as vítimas, e o Ministério Público, as delegacias e unidades de saúde”, discorreu, enaltecendo o avanço que a pasta representou para a população cuiabana.
A 1ª Mostra Fotográfica das Vítimas de Feminicídio em Cuiabá ficará em cartaz no Pantanal Shopping até o fim do mês de outubro.
|